Um relatório sobre "o genocídio do povo waimiri-atroari" foi entregue pelo Comitê da Verdade, Memória e Justiça do Amazonas ao Ministério Público Federal no Estado. Os dados do relatório serão acrescentados aos existentes no inquérito civil público instaurado, em setembro deste ano, pelo procurador da República Julio José Araujo Junior, para apurar a responsabilidade do Estado Brasileiro pelas violações dos direitos do povo indígena waimiri-atroari durante a construção da Rodovia BR-174, que liga Manaus (AM) a Boa Vista (RR).
A reportagem é do blog de Altino Machado, 18-10-2012.
O relatório, que conta com mais de cem documentos e mais de 200 documentos referenciados, aponta o desaparecimento de mais de dois mil integrantes do povo indígena waimiri-atroari e estabelece a relação da construção da BR-174 com o massacre dos índios. Aldeias inteiras da etnia foram dizimadas por expedições militares ou por matadores profissionais. Os waimiri atroari eram considerados empecilhos à livre exploração das riquezas naturais existentes nas terras que ocupavam.
Dois episódios marcaram a história do contato. O primeiro foi a morte de duas equipes que atuaram na tentativa de atrair os waimiri atroari.
Uma, em 1968, era liderada pelo padre e antropólogo Giovane Calleri, que tinha a missão de consumar o contato com os indígenas em três meses.
A outra equipe, da Fundação Nacional do Índio, era chefiada pelo indigenista Gilberto Pinto Figueiredo, que tentara restabelecer a Frente de Atração, com o intuito de promover um contato baseado no respeito à cultura indígena e de forma paulatina. O relatório soma ao trazer documentos que possam instruir esse inquérito e que contribuam para elucidar o que ocorreu nesse período – afirmou o procurador.
O MPF acompanha a atuação da Comissão da Verdade, em todo o país, e vem adotando medidas, nos âmbitos cível e criminal, para apurar essas violações contra os direitos humanos durante o período da ditadura militar.
Cópia do documento também foi entregue ao assessor da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República Gilney Viana, que representou a Comissão Nacional da Verdade. O assessor disse que o relatório é "simbólico e paradigmático". - É o primeiro relatório de um comitê que a Comissão Nacional da Verdade recebe. Geralmente, os comitês entregam documentos, mas não um relatório robusto. Além disso, é o primeiro relato focado na questão indígena – assinalou Viana.
O procurador regional dos Direitos do Cidadão, Felipe de Barros Carvalho Pinto, reafirmou o compromisso do MPF em acompanhar a atuação da Comissão.
- Esperamos que, a partir do diálogo da Comissão Nacional da Verdade com o MPF, já iniciado, possam surgir ações concretas no sentido de esclarecer a sociedade, responsabilizar aqueles que devam ser responsabilizados e ajudar a reconstruir a verdade da história do país.
Do IHU
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