Publicado em 10 de outubro de 2012
Nesta quarta, 10, a coordenadora regional da Funai em Altamira,
Estella Libardi de Souza, foi à ensecadeira de Pimental, acompanhada
por um representante da Norte Energia e dois membros da Policia Federal,
para uma primeira conversa com os manifestantes que, desde segunda,
paralisaram as obras de Belo Monte neste trecho. A ocupação é um protesto contra o barramento do Xingu e o não cumprimento de acordos e condicionantes.
A ida da coordenadora ao acampamento seguiu a recomendação do Juiz
Federal Marcelo Honorato, que, no início do dia, negou o pedido de
despejo da Norte Energia e do Consórcio Construtor Belo Monte e
notificou a Funai “para realizar o trabalho de intervenção pacífica no
conflito possessório, durante as próximas 48 horas, com a presença de um
procurador federal e especialistas indígenas, devendo apresentar
Relatório Circunstanciado a cada 24 horas de trabalho, descrevendo,
compulsoriamente, as soluções tentadas, os insucessos e seus motivos,
bem como se obteve êxito na retirada pacífica dos indígenas”.
De acordo com os manifestantes – que já chegam a 200 pessoas – o
sucesso das negociações dependerá inteiramente do atendimento das
reivindicações apresentadas durante a reunião, que foram lidas e
entregues por indígenas e pescadores, e assinadas pela representante da
Funai.
Segundo participantes, houve tensão no inicio da reunião quando os
manifestantes acusaram a Norte Energia de coerção por ter cortado a água
potável e a energia da ensecadeira, deixando-os em situação de extrema
vulnerabilidade. Também a fala de um dos representantes da Policia
federal, de que não haveria negociação em área ocupada mas apenas em
Altamira, gerou protestos entre os indígenas, que reafirmaram que
quaisquer conversas deverão ocorrer no acampamento.
Reivindicação
Tanto indígenas quanto ribeirinhos, pescadores e agricultores haviam preparado suas respectivas pautas de reivindicação, apresentadas à coordenadora da Funai esta tarde. Entre as demandas dos indígenas, destacam-se: demarcação das terras indígenas de acordo com o previsto nas condicionantes do licenciamento de Belo Monte; desintrusão da TI Cachoeira Seca; Monitoramento territorial; Infraestrutura e saneamento básico para as comunidades indígenas; construção de escolas com ensino diferenciado nas comunidades indígenas; postos de vigilância para as comunidades; pistas de pouso nas comunidades; farmácias nas comunidades; estruturação das associações das comunidades indígenas conforme requerido no oficio 7 de 10 de 2012; julgamento de todas as Ações Civis Públicas do MPF; julgamento da ação sobre oitiva indígena pelo STF; regulamentação da questão das consulta indígena e realização da mesma em todas as comunidades indígenas afetadas direta e indiretamente por Belo Monte; cumprimento de todos os acordos já firmados com todas as aldeias; e cumprimento das demais condicionantes indígenas não presentes na carta.
Tanto indígenas quanto ribeirinhos, pescadores e agricultores haviam preparado suas respectivas pautas de reivindicação, apresentadas à coordenadora da Funai esta tarde. Entre as demandas dos indígenas, destacam-se: demarcação das terras indígenas de acordo com o previsto nas condicionantes do licenciamento de Belo Monte; desintrusão da TI Cachoeira Seca; Monitoramento territorial; Infraestrutura e saneamento básico para as comunidades indígenas; construção de escolas com ensino diferenciado nas comunidades indígenas; postos de vigilância para as comunidades; pistas de pouso nas comunidades; farmácias nas comunidades; estruturação das associações das comunidades indígenas conforme requerido no oficio 7 de 10 de 2012; julgamento de todas as Ações Civis Públicas do MPF; julgamento da ação sobre oitiva indígena pelo STF; regulamentação da questão das consulta indígena e realização da mesma em todas as comunidades indígenas afetadas direta e indiretamente por Belo Monte; cumprimento de todos os acordos já firmados com todas as aldeias; e cumprimento das demais condicionantes indígenas não presentes na carta.
Já pescadores, ribeirinhos e agricultores apresentaram demandas em
conjunto, entre as quais: o direito de pescar e andar livremente no
rio; inclusão das ilhas e da margem do rio Xingu como área de
subsistência e territórios dos povos tradicionais; um fundo emergencial
para as famílias que dependem do rio Xingu no valor de 3 mil reais/mês,
com reajuste, do início das obras até seu termino; remanejamento das
famílias que moram nos bairros atingidos na cidade, respeitando a lei
habitacional; trocar as embarcações de ribeirinhos e pescadores por
outras mais potentes, que resistam a transposição; participação em 10%
do lucro da energia produzida no rio Xingu; e presença do presidente do
Ibama para negociação com o setor.
Segundo representantes dos manifestantes, a coordenadora da Funai
teria afirmado que entende que a situação é delicada e as demandas
legitimas, mas que a ocupação do canteiro seria uma “medida de força,
drástica”. No entanto, não houve nenhuma intimação formal para que os
acampados deixassem a ensecadeira, nem encaminhamentos concretos sobre a
continuidade das negociações.
Presença policial e discriminação
Apesar de não ter deferido o pedido de despejo da Norte Energia contra os manifestantes, o juiz Marcelo Honorato, que considerou a ocupação um esbulho possessório, determinou que a Polícia Federal “coordene o trabalho de segurança das instalações adjacentes (…) de forma a estabelecer uma contenção do esbulho, com devido apoio do Comando da Policia Militar (…)”, além de ordenar que “as forças policiais procurem identificar eventuais não-índios participantes do esbulho” (clique aqui para ver o documento na íntegra).
Apesar de não ter deferido o pedido de despejo da Norte Energia contra os manifestantes, o juiz Marcelo Honorato, que considerou a ocupação um esbulho possessório, determinou que a Polícia Federal “coordene o trabalho de segurança das instalações adjacentes (…) de forma a estabelecer uma contenção do esbulho, com devido apoio do Comando da Policia Militar (…)”, além de ordenar que “as forças policiais procurem identificar eventuais não-índios participantes do esbulho” (clique aqui para ver o documento na íntegra).
Para prevenir ataques e tentativas de criminalização, os
manifestantes também produziram uma declaração conjunta, lida durante a
reunião desta tarde:
Declaração dos povos acampados na ensecadeira Pimental
Nós, das comunidades tradicionais atingidas pela UHE de Belo Monte,
entre eles: indígenas da rota Iriri/Xingu, indígenas citadinos,
indígenas ribeirinhos não aldeados, pescadores, agricultores,
ribeirinhos, garimpeiros, pilotos de voadeira, e extrativistas
declaramos que:
1. Por conta das violações repetidas de direitos dos povos
supracitados, no dia 8 .10.2012 a ensecadeira de pimental foi ocupada e
as obras paralisadas.tal ação foi seguida de 24 dias de um acampamento
de resistência próximo à obra
2. A manifestação é pacifica e tem por objetivo a busca pelo respeito
aos direitos dos povos impactados direta e indiretamente pela
hidrelétrica de Belo Monte, e o cumprimento das condicionantes, ações
emergenciais e acordos já firmados
3. Em nenhum momento houve de nossa parte nenhum ato de agressão e/ou
depredação do patrimônio da empresa, como declarou a Norte Energia. Ao
contrário, a empresa é quem está violentando o rio Xingu e os nossos
direitos através da construção desta usina já declarada ilegal pelos
desembargadores da 5a turma do TRF1, além de estar fazendo ameaças via telefone e coação através do corte de água potável e eletricidade
4. Nenhum manifestante irá se retirar da ensecadeira de Pimental até
que todas as demandas dos diferentes segmentos seja de fato cumpridas
e/ou iniciadas
5. Qualquer situação e/ou conseqüência violenta que possa vir a
ocorrer será de responsabilidade inteira do governo federal e da Justiça
brasileira, que têm continuamente violado e ignorado as violações
sofridas pelas populações tradicionais do Xingu, atingidas direta e
indiretamente pela hidrelétrica de Belo Monte.
Por ser verdade, assinam:
Indígenas da rota Iriri/Xingu
Indígenas citadinos
Indígenas ribeirinhos não aldeados
Pescadores
Agricultores
Ribeirinhos
Garimpeiros
Pilotos de voadeira
Extrativistas
Vídeos da ocupação:
Vídeo 2
De Xingu Vivo
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