Esta nota de lideranças da Aty Guasu visa explicitar e
traduzir sinteticamente, o termo e conceito complexo de suicídio jejukauka, do
ponto de vista Guarani e Kaiowá, esclarecendo os significados de “suicídio”, ou
seja, um desejo e sentimento indígena de não viver mais, diante de desespero e
medo kyhyje , entendido como uma vontade profunda em se matar juntos
jajejukauka para se distanciar do sofrimento e de ameaça existente, é para não se
ver mais johexa vei nos meios de
sofrimentos variados teko asy e sem perspectiva digna teko asyrã. Dessa forma, pretendemos destacar os motivos
principais que levam os indígenas se matar, ou melhor, o motivo de
buscar/procurar/planejar a própria morte Guarani e Kaiowá jajejukauka que de
fato foi divulgado historicamente pela imprensa nacional e internacional como a
prática de suicídio Guarani e Kaiowá.
Importa ressaltar que todos os integrantes do Guarani e
Kaiowá ameaçados, sem esperança de ver uma vida mais digna no futuro, pertencente
aos territórios em conflito, em contexto de sofrimento infinito, já pensaram,
algum momento, em suicídio. De modo fechado, o grupo já fala entre eles e pensa
aborrecidamente em se matar, isto é, Guarani e Kaiowá sofridos carregam os
sentimentos de reagir para morrer e/ou enfrentar iminente perigo/resistir se
suicidando, por não conseguir o objetivo central de sua luta individual e
coletiva, como povo indígena. Este
sentimento de não querer viver mais no Mundo suscita justamente frente à
frustação, derrota, medo e fúria intensa indígena que só é narrada
voluntariamente e expressada de modo discreto para as pessoas queridas íntimas
ou companheiras/parceiras de luta recíproca. Assim, o sentimento Guarani e
Kaiowá de não querer a viver mais é muito fechado e previamente nunca foi e nem
será narrada em detalhe para as pessoas não indígenas estranhas e pessoas
externas com quem não compartilham os seus sentimentos. Os indígenas narram
previamente o seu sentimento pessoal somente para as pessoas de sua inteira
confiança e companheira íntima. O fato de suicídio indígena já efetivado
torna-se sempre público e divulgado pela imprensa. Não há uma preocupação de
evitar o suicídio Guarani e Kaiowá.
Baseado em nossos sentimentos pessoais e nesses fatos citados acima, nas
condições de lideranças de Aty Guasu, vimos, mais uma vez, reafirmar que os
conteúdos da carta divulgada pela comunidade Guarani e Kaiowá de Pyleito
kue/Mbarakay é uma decisão definitiva e histórica. Por exemplo, os trechos da
carta da comunidade em julho/2003, dezembro/2009, agosto/2011, outubro/2012
declarou e divulgou que, “nós retornamos a reocupar a nossa antiga tekoha,
voltamos aqui para morrer pela nossa terra”, “queremos morrer pela nossa terra
antiga, por isso retornamos aqui reocupamos.” Este grupo indígena foi atacado e
violentado, agredido e expulsa de modo cruel pelos pistoleiros em 2003, mas
mesmo assim, retornaram a tekoha em 2009, foram agredidos e machucados e
jogados na margem da estrada, porém voltaram de novo em 2011, sempre afirmando
a sua intenção, “vamos morrer todos juntos pela nossa terra antiga”. De fato,
já morreram vários integrantes nesse contexto de reocupação de Pyelito
kue/Mbarakay. Os Guarani e Kaiowá reagiram para morrer, na sequencia, os
machucados pelos pistoleiros estão morrendo sim, em outro termo, já estão
praticando tal de suicídio sim. Esta é a verdade na nossa visão. Assim, a FUNAI
não deveria confirmar em nota que “os indígenas de Pyelito Kue/Mbarakay não tem
a intenção de suicídio, conforme divulgada pela imprensa” (Ver a nota da FUNAI
em anexo), afirmação não confere com a realidade conhecida que nessa parte da
nota da FUNAI nos deixa muito indignados. Visto que a FUNAI de Ponta Porã-MS
agiu de modo autoritário com as lideranças de Pyelito Kue os intimaram para
confirmar que “não há a intenção de suicídio”. Neste trecho da nota da FUNAI
parece que está ignorando o fato conhecido de suicídio epidêmico do povo
Guarani e Kaiowá do Mato Grosso do Sul. De fato, o suicídio indígena ocorreu e
aumentou em decorrência da demora de identificação e demarcação do território
antigo. Os Guarani e Kaiowá se mataram,
estão ameaçados e morrendo dia-a-dia por conta de medo, desespero, sem
perspectiva digna. Essa é a verdade. É sabido que a imprensa está divulgando
amplamente o caso de suicídio Guarani e Kaiowá desde 1980 que perdura até hoje.
Por fim, esta nota pretende esclarecer e reafirmar que as
comunidades Guarani e Kaiowá da tekoha de Passo Piraju-Dourados-MS e tekoha
Pyelito kue/Mbarakay-Iguatemi-MS decidiram a resistir o despejo sim e morrer
todos juntos pela terra sim. A comunidade afirma na carta “ Nós não vamos sair
daqui nem vivo e nem morto” “ nós vamos morrer todos juntos aqui na tekoha
antiga”. Assim confirmaram.
Atenciosamente,
Tekoha guasu Guarani e Kaiowá, 19 de outubro de 2012
Lideranças da Aty Guasu Guarani e Kaiowá
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